“Família é Prato Difícil de Preparar” – “O Arroz de Palma” de Francisco Azevedo
Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais...
Lá Vai Minha Filha – Coluna da Hilda Lucas
Lá vai minha filha quase voando no seu vestido etéreo. La vai minha filha do olho grande, da pele morena e do cheiro de feijão. A menina que estreou a mãe em mim. A menina que chegou trazendo todo um universo de novidades: emoções, medos, encantamentos, aprendizados. Crescemos juntas: eu aprendendo a ser mãe e ela aprendendo a ser ela mesma. Descobrimos duas palavras mágicas: ela me chamou mãe e eu a chamei filha. Palavras novas e tão viscerais que pacientes esperavam para se cumprir. Éramos duas sendo uma em muitos sentidos. Carne da minha carne, fruto do meu amor, sonho dos meus sonhos. Ela me expandia e eu a protegia. Ela me dava a mão e eu todos os sumos. Ela me dava a eternidade e eu lhe dava asas. Ela me alargava o coração e eu lhe ensinava a...
Filho Predileto ! – Autoria: Erma Bombeck
Certa vez perguntaram a uma mãe qual era seu filho preferido, aquele que ela mais amava. E ela, deixando entrever um sorriso, respondeu: Nada é mais volúvel que um coração de mãe. E, como mãe, lhe respondo: o filho dileto, aquele a quem me dedico de corpo e alma… É o meu filho doente, até que sare. O que partiu, até que volte. O que está cansado, até que descanse. O que está com fome, até que se alimente. O que está com sede, até que beba O que está estudando, até que aprenda. O que está nu, até que se vista. O que não trabalha, até que se empregue. O que namora, até que se case. O que casa, até que conviva. O que é pai, até que os crie. O que prometeu, até que se cumpra. O que deve, até que pague. O que chora, até que cale. E...
A Mãe da Gente- ( por Lya Luft)
“ Partindo do princípio de que relações são complicadas, ter um filho( a mais incrível experiência humana), ter de criá-lo para que seja feliz, cuidar de sua saúde, seu desenvolvimento, dar-lhe afeto, bom ambiente, encontrar o dificílimo equilíbrio entre vigiar ( pois quem ama cuida) e liberar ( para que se desenvolva) é tarefa gigantesca. Que a mais simples mãe do mundo possa realizar sem se dar conta, e na qual a mais sofisticada mãe pode falhar de maneira estrondosa, dando-se conta disso, ou jamais pensando nisso. Nesse universo de contradições, pressões, exigências, variedades e ansiedade em que andamos metidos, qualquer tarefa fica mais difícil, que dirá a de manter concreta e emocionalmente uma família numa relação boa dentro do...
Carta que o Apresentador Flávio Cavalcanti (1923-1986) Escreveu a seu Neto
Meu neto: Pelo que você já me disse com o seu sotaque de anjo, percebo que você me considera uma criança grandona e desajeitada, e me acha, mesmo assim, seu melhor companheiro de brinquedos. Pena que tenhamos tão pouco tempo para brincar, tão pouco porque só sei brincar de passado, e você só sabe brincar de futuro. E ainda estarei brincando de recordação quando você começar a brincar de esperança. Mas antes que termine o nosso recreio juntos, antes que eu me torne apenas um retrato na parede, uma referência do meu genro, ou quem sabe até uma lágrima de minha filha, quero lhe dizer meu neto, que vale a pena. Vale a pena crescer e estudar. Vale a pena conhecer pessoas, ter namoradas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções. E, a despeito...
Mãe (Desnecessária) – Marcia Neder
A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo. Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou estranha. Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara. Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária. Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso. Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e...